terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quando o Abismo me Olha


Imagem da autoria de svensson

O abismo fita-me pacientemente.
Tento resistir à facilidade de olhá-lo também,
mas ele insiste em perscrutar-me a mente
ao ponto de tomar o seu lugar.

Os olhares cruzam-se; deixo-me ir.
Navego ao sabor da maré, que de tudo me afasta
e me leva para longe, para o fundo talvez.
Entrego-me ao esquecimento sem resistir.


Parto para uma ilha inóspita, inabitada,
onde a solidão é inexistente, pois tão pouco existe o contrário.
O pequeno barco escala as muralhas de água com dificuldade
e o mar abre-se quase revelando o fundo; tenebroso é o cenário.

O vento cortante imobiliza as gaivotas no ar
e, enquanto o abismo surge entre mim e a crista da onda,
até o próprio tempo parece parar
oferecendo uma breve eternidade de contemplação.

A saída, tantas vezes dita fácil,
é agora mais fácil que nunca.
Estou certo, porém, de que não quero morrer.
Mas hoje decidi desaparecer.




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